Contra Rippers

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obama: o Mundo a seus pés

16h19m

Augusto Correia *
foto Peter Dejong/AFP
Obama: o Mundo a seus pés
O slogan de Obama pintado na montra do Clube Americano do Livro, em Amesterdão

A mudança prometida por Barack Obama está a correr o Mundo. E o Mundo já se abriu a essa mudança. Das Américas à Ásia, somam-se votnades de cooperar com o presidente indigitado dos EUA. África rejubila com o “presidente negro” e no Quénia, terra de Barack Obama Sénior, quita-feira é feriado nacional.

Hugo Chavez, socialista pedra no sapato de George W. Bush, já abriu as portas da Venezuela a Barack Obama. O presidente venezuelano felecitou o senador do Ilinnois pela “vitória histórica” e mostrou a vontade de estabelecer “novas relações” com os EUA, relançando uma “agenda bilateral construtiva”.

“Neste dia de esperança para os americanos, o presidente Hugo Chavez, em nome do povo venezuelano, felicita os Estados Unidos e o presidente barack Obama pela sua grande vitória”, lê-se no comunicado os Ministéruio dos Negócios Estrangeiros da Venezuela.

A “eleição histórica de uma afro-americano” foi o catalizador da mudança venezuelana, pouco mais de uma semana depois de Caracas ter expulso o embaixador norte-americana na capital da Venezuela. Foi, também, uma centelha de esperança que se espalhou pelo Mundo, com particular brilho em África.

África rejubila com o filho pródigo

O presidente da África do Sul, Kgalema Motlanthe, saudou a vitória eleitoral do "primeiro presidente negro da História da nação mais poderosa do mundo". Numa mensagem difundida pela Presidência, o homem que sucedeu a Thabo Mbeki salienta que Barack Obama "tem sobre os seus ombros as esperanças e sonhos de milhões dos seus compatriotas, homens e mulheres, bem como de muitos mais milhões de pessoas, particularmente de descendência africana que vivem no continente africano e na diáspora".

"Espero que a sua eleição contribua decisivamente para que se venham a verificar no continente africano as mudanças em que as pessoas acreditam", conclui a nota de felicitações do presidente Motlanthe.

No Quénia, terra natal do pai da Barack Obama, o Governo declarou feriado nacional pela "histórica" vitória de Barack Obama Júnio. Na pequena vila de Kogelo, onde vive a avó materna do presidente eleito dos EUA, gritos de vitória fizeram ouvir-se na assistência que seguiu as eleições através de um ecrã gigante. "O senador Obama é o nosso novo Presidente. Deus respondeu às nossas preces", comentou um pastor entre cantos de alegria.

Na sequência da vitória do senador democrata, o Presidente queniano Mwai Kibaki decretou o dia 6 de Novembro como dia feriado, para permitir as festividades pela vitória de Obama. "A vitória do senador Obama é a vitória do nosso país, tendo em conta que as suas raízes são aqui, no Quénia", explicou.

Apesar de Sarah Obama, a avó paterna do novo Presidente, ser a terceira esposa do seu avô, e como tal não ter qualquer laço biológico com o senador democrata, Barack Obama considera-a como sua avó. A outra avó de Barack Obama, Madelyn Duham, faleceu na véspera das eleições com 86 anos de idade.

Da Rússia à China

A “hope” de Obama ecoou em todo o Mundo, como uma luz de esperança. Gigantes e rivais como a China e a Rússia já suavizaram posições. "As notícias que chegam sobre os resultados das eleições norte-americanas mostram que temos o direito de esperar uma renovação nas abordagens dos Estados Unidos face aos problemas mais importantes, nomeadamente face aos problemas da política externa e, por conseguinte, face à Rússia", declarou Gueorgui Karassin, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.

"Esperamos que essa frescura nas relações nos traga novas ideias no plano da interacção construtiva na resposta aos novos desafios e ameaças do séc. XXI", sublinhou o diplomata, sustentando que as autoridades russas estão prontas a cooperar com o novo Presidente dos Estados Unidos. "Semelhante cooperação deverá basear-se numa política a longo prazo e tendo em conta os interesses de ambas as partes", declarou.
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Da China, também tocada pelo discurso galvanizador de Obama, a manifestação de optimismo e esperança é feita à moda chinesa: expressando vontade de trabalhar para "fortalecer o diálogo e a cooperação entre a China e os Estados Unidos", disse o presidente chinês, Hu Jintao.

"O governo chinês e eu próprio sempre atribuímos grande importância às relações sino-americanas", disse Hu Jintao numa mensagem de felicitações enviada a Obama. “Promover boas e estáveis relações entre a China e os Estados Unidos serve os interesses fundamentais dos dois países e significa muito para a paz, estabilidade e desenvolvimento mundiais", acrescenta o presidente chinês.

No texto, difundido pela agência noticiosa oficial chinesa, Hu Jintao afirma também que a China e os Estados Unidos "partilham um vasto leque de interesses comuns e importantes responsabilidades sobre grandes questões que dizem respeito ao bem estar da humanidade".

Também na Ásia, o primeiro-ministro japonês, Taro Aso, a Presidente filipina Gloria Arroyo e o Chefe de Estado da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, saudaram também a eleição de Obama.

A força da América

Dos países onde a América é presença em forma de força militar, as reações são mistas. No Iraque, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hoshyar Zebari, reagiu com reserva à eleição de Obama. "Respeitamos a escolha dos americanos", disse à Agência France Presse (AFP).

"Não acreditamos que haja uma brusca mudança política, e não haverá uma rápida retirada norte-americana do Iraque", disse Zebari. Isto, apesar de Obama ter anunciado durante a sua campanha que pretendia retirar a maior parte das tropas norte-americanas do Iraque 16 meses depois de assumir funções.

No Afeganistão, o Presidente Hamid Karzai considerou que a eleição de Obama "traz ao povo americano, e com ele ao resto do mundo, uma nova era". Igual centelha de esperança chegou ao conflito israelo-árabe.

O primeiro-ministro cessante de Israel, Ehud Olmert, saudou a vitória "brilhante e histórica" de Barack Obama, referindo a esperança de um "estreitamento" das relações bilaterais e de progresso no processo de paz, sob o seu mandato.

Por sua vez, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, Yigal Palmor, considerou que, com a vitória de Obama, as relações entre os Estados Unidos e Israel estão destinadas a "um bom futuro".

O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, um moderado próximo dos EUA e capaz de entabular negociações com Israel, apelou a Obama para que "acelere os esforços envidados para a obtenção da paz" no Médio Oriente.

A outra face da moeda palestiniana, mais radical, o movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza, apelou ao Presidente eleito para que "tire uma lição dos erros" das Administrações norte-americanas anteriores para com o mundo arabe-muçulmano, "nomeadamente a de (George W.) Bush".

Da Europa aos antípodas

Nós por cá, pela voz do primeiro-ministro, também sentimos a chegada de Obama. "Uma oportunidade de mudança para os Estados Unidos e para o mundo", disse José Sócrates.

"A voz de Barack Obama é uma voz de esperança e a sua eleição representa uma oportunidade de mudança para os Estados Unidos e para o mundo", sublinha José Sócrates. Na mensagem, o primeiro-ministro considera que a vitória do candidato democrata e senador do Ilinois constitui "um momento histórico".

Nicolas Sarkozy, presidente da França, que acumula a presidência da União Europeia, idênticos votos: "Receba as minhas felicitações mais calorosas e, através de mim, as do povo francês. A sua vitória brilhante representa um firme compromisso ao serviço do povo norte-americano. Vitória reflectiu "uma campanha excepcional", que provou "ao mundo inteiro a vitalidade da democracia norte-americana".

Esta eleição significa "a escolha da mudança, a abertura e o optimismo", assim como "uma imensa esperança" para o mundo. "A França e a Europa, que estão unidas desde sempre aos Estados Unidos pelos laços de História, dos valores e de amizade, possuem uma energia nova para trabalhar com os Estados Unidos na preservação da paz e da prosperidade do mundo. Fique seguro que poderá contar com a França e com o meu apoio pessoal."

Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, renovou a esprança da Europa: "Temos que transformar a crise actual em oportunidade. Temos necessidade de um 'new deal' para um novo mundo. Espero sinceramente que sob a direcção do presidente Obama, os Estados Unidos juntem as suas forças à Europa para conseguir este 'new deal', em benefício das nossas sociedades e de todo o mundo. Chegou a altura de um empenhamento renovado entre a Europa e os Estados Unidos da América.
Desejo garantir ao senador Obama o apoio da Comissão Europeia e o meu apoio pessoal ao renovamento deste compromisso para enfrentarmos juntos os numerosos desafios que nos aguardam."

Nos Antípodas, o primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, considerou que Obama concretizou "o sonho" de Martin Luther King "de uma América onde homens e mulheres serão julgados não pela sua cor de pele mas pela sua personalidade".

* com Agências

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